Ao observarmos uma criança pequena, percebemos em seus movimentos a expressão artística que é inata no ser humano.
A criança quando brinca com seus brinquedos, sacode chocalhos, dança mexendo os bracinhos, balbuciando, cantando, imitando e criando diversos tipos de sons e possibilidades de movimentos com o corpo.
Quando descobrem o lápis e a caneta começam a surgir grafismos, rabiscos impressos em papéis e se não cuidarmos, até em paredes... os movimentos das mãozinhas vão e vem, zig zagueando, criando rabiscos e formas arredondadas que de acordo com o psicólogo Jean Piaget, formam as garatujas, que representam estágios psicológicos que abrange crianças na fase sensório motora(0 a 2 anos) e parte da pré-operacional(2 a 7 anos), onde a criança demonstra extremo prazer e a figura humana é inexistente.
“Garatujas gráficas, sonoras e corporais são exercitadas pela criança, provocando-lhe um prazer intrinsecamente estético.
Nem sempre nos damos conta da variedade de rabiscos traçados pela criança e de como eles modificam com o passar do tempo, embora continuem sendo garatujas”.(Martins, Picosque e Guerra, p.97)
Assim, as crianças vão se desenvolvendo e criando movimentos gestuais no decorrer de suas vidas, no ato de comer, brincar com massinhas, argila, pinturas a dedo e pincéis, possibilitando assim a estimulação do desenvolvimento motor e do processo criativo.
O pensamento passa a estimular a ação de criar e repetir, simbolizando a sua expressão antes mesmo da leitura e escrita, trazendo o desenho como a primeira forma de expressão humana representado pela arte rupestre.
A criança desenha utilizando sua expressão em uma relação entre o real e o imaginário inventando formas, reproduzindo triângulos, retângulos, círculos e quadrados que vão representando os desenhos animados preferidos ou imaginados onde muitas vezes os traços ou os objetos podem não condizer com a sua representação verbal sinalizada pela criança.
Observamos ainda, no Esquematismo (fase das operações concretas), que abrange crianças de 7 a 10 anos, onde os esquemas representativos caracterizam-se pela construção de formas diferenciadas para cada categoria de objeto.
Nessa fase a criança já tem um conceito definido quanto à figura humana, porém podem exagerar, negligenciar ou mudar o símbolo, as formas.
O Realismo é observado no final das operações concretas. Nessa fase há uma consciência maior do sexo dos seres e autocrítica. As formas geométricas aparecem com mais clareza, rigidez e formalismo. A preocupação com as roupas vão diferenciando os sexos.
Em todos os estágios é importante que a criança possa expressar formas e traços através do desenho imaginativo ou até mesmo através de reprodução ou releituras, possibilitando uma intervenção gráfica.
A intervenção gráfica tem como principal objetivo, segundo Arslan e Iavelberg, desenhar como ponto de partida uma imagem, convidando a criança a pensar numa nova composição, num novo jeito de pensar algo.
A criança sente-se desafiada, pensa criticamente a imagem e apreciam o desafio e a dificuldade apresentados por esse tipo de imagem.
Muitas vezes os pais oferecem desenhos feitos por adultos prontos para colorir, sugerindo a criança que apenas preencha os espaços com cores, fazendo que as mesmas realizem movimentos motores não exigindo um esforço mental, tornando essa atividade um ato mecânico.
Dessa forma, compreender e estimular a expressão artística nas crianças através de diversas linguagens, proporcionando um ambiente de estímulos visuais, auditivos e corporais, valorizando a expressão sem apego à estética, ao produto final; os pais estarão contribuindo para a liberdade de expressão gráfica, emocional e sentimental, desenvolvendo naturalmente a coordenação motora, criatividade, auto-estima, habilidades motoras e artísticas de forma lúdica.
Desenhar é ainda um excelente exercício para a escrita, pois como diz a profª Cássia G. Ribeiro em seu artigo intitulado: Desenho é fundamental na alfabetização da criança, esclarece:
"A criança vai desenvolvendo as fases do desenho, começando a criar noções de tamanho espaço, conforme vai aprendendo a lidar com as letras. Uma coisa leva à outra. Quando a criança entra na fase em que começa a ter noções de perspectiva, de cores, proporções e planificações, ela também começa a formar as primeiras palavras e as primeiras frases”. (p.1)
Assim, o desenho infantil é uma linguagem artística importante para o desenvolvimento da criança de forma global, facilitando o seu processo de aprendizagem escolar de forma lúdica, tornando a arte e a educação caminhos para a formação humana detentora da transformação plena de um ser espontâneo, questionador, de senso crítico, habilidoso, criativo, sensível e perspicaz.
Rizoma Escola de Música, Artes, Educação e Saúde.