Pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) com crianças do ensino fundamental mostra que as histórias infantis e as cantigas de roda, inclusive o "Atirei o pau no gato", fazem muito mais por uma criança do que apenas entreter. O desenvolvimento da fala, e consequentemente da interpretação e produção de textos, evoluem no compasso dos diálogos com os pais e com as brincadeiras verbais da infância. O estudo é endossado pela presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia, Cláudia Mara Graça, que trabalha no tratamento de alunos com dificuldade de aprendizado.
Doutor pela faculdade de educação da USP e coordenador da pesquisa "Alfabetização e leitura a partir da oralidade", Claudemir Belintane mostrou a professores da rede pública do Rio, em um seminário recente, o resultado do estudo feito durante um ano com 40 crianças de primeira a quarta série de escolas da periferia de São Paulo. Os alunos não alfabetizados ao longo dos quatro anos - "um número alto", nas palavras de Claudemir - apresentaram dificuldade de memorização e narração de histórias simples, como lendas e contos, "indicados para crianças de idade inferior".
"Nesse período, houve uma melhora da comunicação oral muito precária. São alunos mais predispostos à fala comunicativa do que a qualquer tipo de texto", afirmou Belintane.
Ao contrário da fala, que é fragmentada, os textos apresentados aos alunos possuíam início, meio e fim, assim como rima, jogo de palavras, trocadilhos, brincadeiras e outros recursos estéticos, que os estudantes tinham dificuldade de assimilar, embora, normalmente, sejam memorizados junto com a apreensão da linguagem, a partir dos 2 anos.
"A oralidade não se fundamenta na conversa cotidiana. É produto do conjunto de histórias, lendas, advinhações e rimas infantis. São habilidades de linguagens que preparam as bases para a escrita", define o pesquisador.
Em nenhuma criança do grupo foi diagnosticado problema neurológico. Muitas, porém, têm problemas familiares "sérios, que geraram questões psíquicas profundas", como abandono, falta de atenção e maus tratos.
"São crianças que não recebem a carga de linguagem dada a outras. As pessoas se comunicam com elas no imperativo: se manda, sai fora, cala a boa etc", explica. "As que desde cedo brincam com a palavra, ouvem cantigas de ninar, que têm um tratamento estético, conseguem desenvolver uma linguagem muito mais rica".
Artigo publicado em Educação e Comportamento
09 de junho de 2009
Rizoma Escola de Música, Artes, Educação e Saúde
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